Que a verdade seja dita: as pautas de inclusão estão cada vez mais fortes e presentes no cotidiano. E um dos reflexos dessa realidade é que diversidade e varejo estão também cada vez mais integrados com a inserção de uma grande variedade de pessoas ao vasto universo do mercado de consumo varejista.

Quem reforça essa ideia é especialista no assunto. O professor Fabio Mariano Borges analisa o fato de que a diversidade se tornou algo essencial e urgente para as empresas, impactando diretamente na relação com o consumidor. Veja mais abaixo!

Um empregador da diversidade

Segundo Borges, há uma clara diferença do varejo para outros setores. Enquanto estes investem em comunicação e assistência a outras entidades e iniciativas que apoiam e promovem a diversidade, aquele já emprega e inclui pessoas da diversidade.

“Percebemos nitidamente que o varejo é um setor importante enquanto empregador da diversidade. Também porque ele está presente em diferentes pontos de cidades, estados e países, o que proporciona grande oferta de empregos. Assim, o preenchimento dessas vagas, inevitavelmente, muitas vezes ocorre por pessoas da diversidade, ainda que não haja um programa intencional para isso”, explica.

Métodos e ações

Este ponto, segundo Borges, é fundamental ao falarmos de diversidade e varejo. “Muitas empresas de bastante relevância no setor já se autoproclamam, se autodeclaram, empresas com muita diversidade. Mas isso não é verdade. As empresas que podem se autoproclamar como empresas de diversidade são aquelas que têm programas intencionais.”

O professor os define como a criação de estratégias, planos e ações, que envolvem a empregabilidade e outros aspectos necessários. E isso se aplica diretamente ao contexto brasileiro.

A diversidade no Brasil

“Vivendo no Brasil, onde 56% da população se autodeclara como pretos ou pardos, não dá para falarmos que só porque a empresa tem, entre os funcionários, pessoas pretas e pardas ela é da diversidade”, ressalta Borges.

E essa contratação também ocorre no varejo. “O setor absorve um número muito significativo de mão de obra menos qualificada. Então, é no varejo que vamos encontrar um número muito grande de vagas de empacotadores, estoquistas, assistentes, auxiliares… E são essas as vagas que são ocupadas pelas pessoas da diversidade. Isso é um movimento que apenas retrata a estrutura de exclusão, a estrutura excludente do Brasil e a estrutura preconceituosa.”

Diversidade e liderança

A presença das pessoas da diversidade na liderança é outro ponto importante para discussão.

“No varejo, raramente vemos pessoas da diversidade ocupando cargos de cúpula, diretoria, presidência etc. Fica essa atenção de que o varejo é, sim, um setor bastante empregador da diversidade, mas isso não significa que é um dos setores mais envolvidos. É um dos setores que retrata essa estrutura excludente no Brasil”, destaca o professor.

Ainda assim, Borges enxerga um cenário em que a conscientização está cada vez mais presente, principalmente, no dia a dia de empresas varejistas que investem em programas efetivos e ações, e atuam de maneira proativa em prol da diversidade.

Origem das discussões

Mas você sabe como foi o caminho até aqui? Borges explica que as discussões a respeito da inclusão da diversidade se fizeram presentes na década de 1960, nos Estados Unidos, com a inclusão das pessoas pretas.

“Como era um momento de contracultura, de discussão de cidadania, isso foi refletindo em outros países. Jamais vou dizer que foi expandindo. Isso refletiu e alguns grupos, então, muito restritos, de intelectuais e ativistas desses outros países, também começaram a dar importância para temática.”

Outro ponto que potencializou essas discussões foi o envolvimento dos Estados Unidos em guerras fora do território norte-americano, como, por exemplo, os conflitos no Oriente Médio.

“Isso fez com que muitos dos jovens que foram para a guerra voltassem mutilados. Entre os que voltaram, ou voltaram mutilados ou com sequelas psíquicas gravíssimas. E, claro, quem teve que absorver essa conta foi o Estado.”

“Então, estamos falando de soldados norte-americanos, de maioria significativa branca, vindo, muitas vezes, de famílias muito privilegiadas e conscientes de seus direitos. E essas famílias começaram a pressionar o Estado para que fosse feita uma inclusão factual e eficiente desses jovens, que não poderiam ser largados à deriva”, completa Borges.

Panorama brasileiro

Segundo professor, no Brasil, a diversidade e varejo começaram a se unir na década de 1960, com discussões restritas ao ambiente acadêmico a respeito da inclusão de pessoas pretas. Mas esse movimento, infelizmente, antecedeu um período de ditadura, em que esses avanços foram completamente abafados e apagados da sociedade.

“Tivemos iniciativas horrorosas no governo militar, como crianças com deficiência que, praticamente, não frequentavam escolas e, quando frequentavam, as escolas não tinham infraestrutura para essas crianças que, na maioria das vezes, eram colocadas em uma sala à parte e eram tratadas como crianças excepcionais, termo que hoje é totalmente repudiado pela medicina e pelos especialistas de diversidade.”

Em meados de 1990, com fatores como o desenvolvimento da economia no país, estabilização dos índices de inflação, maior abertura para o mercado global e expansão das empresas e do ensino, os debates tiveram início mais uma vez.

E o que resta para nós hoje?

“O Brasil é um país excludente e de uma exclusão estarrecedora, escandalosa e até criminosa”, explica o professor. “O preconceito e a exclusão, no Brasil, é o crime perfeito. Não conseguimos localizar o responsável, o autor do crime, não conseguimos puni-lo e responsabilizá-lo e não conseguimos colocar políticas que garantam a inclusão. Então, este é sim um dos países mais escandalosamente excludentes”, finaliza.

Você percebe essa união entre diversidade e varejo no cenário brasileiro? Deixe sua opinião nos comentários!

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